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HISTÓRIA DA O BOTICÁRIO

A Inspiradora História de O Boticário: De Farmácia Artesanal a Gigante da Beleza


A trajetória do O Boticário começa com um jovem idealista chamado Miguel Krigsner, um boliviano que, ainda criança, se mudou para Curitiba, no Paraná, junto com sua família. Filho de um comerciante judeu e sobrevivente da guerra, Krigsner cresceu ouvindo histórias de superação e trabalho duro — e isso marcaria para sempre sua visão de mundo e sua maneira de empreender.


Recém-formado em Bioquímica pela Universidade Federal do Paraná, ele decidiu abrir mão da carreira tradicional em laboratórios ou indústrias farmacêuticas. Em vez disso, queria algo autêntico, com alma, que unisse ciência, criatividade e contato direto com as pessoas. Foi assim que, em 1977, nasceu uma pequena farmácia de manipulação no centro de Curitiba: O Boticário — nome escolhido por evocar os antigos farmacêuticos artesanais que preparavam fórmulas sob medida.


Logo nos primeiros meses, algo curioso aconteceu. A maioria dos clientes era formada por mulheres, que esperavam dentro da loja enquanto as fórmulas eram preparadas. Atento ao comportamento do público, Miguel teve uma sacada brilhante: começou a expor, no próprio balcão, cremes e loções dermatológicas feitas com colágeno e extratos naturais. O resultado foi imediato — os cosméticos passaram a vender mais do que os medicamentos.

Esse foi o ponto de virada. A farmácia virou boutique. A marca virou experiência.

Em 1979, Krigsner deu um passo ousado: inaugurou uma segunda unidade no Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba. A loja ganhou visibilidade nacional, atraindo passageiros de outras cidades que queriam revender os produtos em seus estados. Foi essa movimentação espontânea que deu origem, em 1980, à primeira franquia da marca, instalada em Brasília. O Boticário se tornava, assim, uma das primeiras empresas brasileiras a adotar o modelo de franquias comerciais, ainda pouco conhecido por aqui.


Nos anos seguintes, a expansão foi explosiva. A marca chegou a abrir mais de 800 lojas em menos de uma década, espalhadas por todas as regiões do país. Mais do que vender produtos, a marca começou a vender experiências sensoriais e emocionais — perfumes, cores, texturas e sentimentos que se tornavam parte da rotina de milhões de brasileiros.


Uma das histórias mais emblemáticas da ousadia de Miguel Krigsner envolve o lendário perfume Acqua Fresca. Certa vez, ao visitar o apresentador Silvio Santos, Krigsner comprou, sem ter o dinheiro, um lote de 60 mil frascos de perfume que estavam parados no estoque do SBT. Sem ter como pagar, nem onde armazenar os frascos, ele se arriscou: acelerou o desenvolvimento da fragrância, lançou o produto — e viu o Acqua Fresca se tornar um dos perfumes mais vendidos da história da perfumaria nacional.


Mas nem tudo foi simples. No fim dos anos 1980 e início dos 1990, o Brasil mergulhou em uma das suas piores crises econômicas. A inflação disparou. A confiança evaporou. E o caixa da empresa ficou comprometido. Ainda assim, Miguel optou pelo caminho mais difícil — mas mais digno: conversou diretamente com seus fornecedores, pediu prazo, renegociou dívidas. Não escondeu os desafios. E isso fez toda a diferença. Em pouco tempo, a empresa voltou a crescer com ainda mais força, ganhando a confiança do mercado e de seus parceiros.


A visão de longo prazo também levou o Boticário a adotar, desde cedo, práticas sustentáveis. Em 1990, foi criada a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, responsável por projetos de preservação ambiental e pela manutenção de reservas naturais no Cerrado e na Mata Atlântica. A marca também passou a investir fortemente em responsabilidade social, promovendo capacitação profissional e geração de renda nas comunidades onde atua.


Com o passar dos anos, o pequeno laboratório virou um império. O Boticário cresceu tanto que deu origem ao Grupo Boticário, que hoje reúne marcas como Eudora, quem disse, berenice?, The Beauty Box, Vult e O.U.i. São mais de 3.600 lojas em 1.700 cidades brasileiras, com presença em 15 países, além de um e-commerce robusto, centros de inovação, pesquisa e uma das fábricas mais modernas do setor.


Mesmo com toda essa estrutura, Miguel Krigsner continua defendendo a importância da loja física, pois acredita que é no ponto de venda que a magia acontece: onde o cliente experimenta, sente e se emociona.

Ao olhar para essa história, Miguel costuma dizer que nunca imaginou que sua pequena farmácia artesanal se tornaria uma das maiores redes de cosméticos do mundo. E deixa um conselho direto para quem quer empreender:

“Não tente cortar caminho. Sucesso não se compra nem se herda. Se constrói, um dia de cada vez, com paixão, consistência e coragem para recomeçar sempre que for preciso.”